23 de novembro de 2010

Lenços, cordas e algemas

Um dos primeiros fetiches desenvolvidos por ela foi uma coleção de lenços e fitas coloridas com as quais ela gostava de se amarrar e sonhar que estava cativa de algum estranho mascarado...Mysty se vendava, amordaçava e amarrava pulsos e mãos para sonhar no escurinho de seu quarto...por causa dessas fantasias ela começou a buscar na Internet historias, contos e tudo que falasse sobre isso mas seu conhecimento do BDSM ainda não havia começado...com o advento do Orkut ela conheceu as comunidades sobre o tema e por ali tentou obter maiores conhecimentos e novas amizades mas mesmo no meio das cordas e lenços algo estava faltando, quase todos ali naqueles grupos gostavam de amarrar ou ser amarrados mas raramente encontrara alguém que gostasse do castigo, da dor, do lado mais obscuro de seu fetiche....ela ficara novamente perdida pois ainda não encontrara o que procurava...naquele tempo tudo ainda era feito meio escondido e a Internet não era o vasto campo de pesquisa que é hoje...não foi uma época fácil pois ela encontrara a ponta do iceberg mas não conseguia ainda visualizar o que estava por baixo da água, assim foi até que um dia ela tomou coragem e entrou numa discreta sex shop em busca de algo que vira num anuncio, um par de algemas apeluciada...meio sem jeito e morrendo de vergonha ela andava por entre as prateleiras da acanhada loja procurando seu tão sonhado futuro tesouro até que encontrou....ela era linda., coberta por uma pelúcia de oncinha, mysty tocou nas algemas com reverencia e olhinhos brilhantes quando de repente alguém falou atrás dela...ela levou tanto susto que quase jogou as algemas para o alto...era apenas a vendedora que queria saber se ela era SM...SM? o que é isso mysty perguntou curiosa e foi então que recebeu sua primeira lição sobre o tema enquanto pagava pelas novas algemas...rumo a sua casa, quase saltitando como uma criança que acabava de descobrir uma nova loja de doces, ficava pensando em tudo que escutara...infelizmente não podia entrar no computador e pesquisar o que tanto queria descobrir, nesse tempo havia apenas um computador na casa e a conexão ainda era discada, ela precisaria esperar a hora e a oportunidade certa para fazer isso...A espera não foi em vão...novas comunidades no Orkut, novos sites, novas imagens....um mundo novo que se descortinava aos olhos da jovem....mysty sentia que renascia e se reconstruía como um quebra-cabeças onde as peças finalmente iam se encaixando...por alguns meses ela leu e estudou sobre o BDSM incluindo em suas brincadeiras novas imagens, novos brinquedos....no entanto ainda não conhecera ninguém que fosse BDSM, isso ainda levaria alguns tempo até acontecer...

16 de agosto de 2010

O começo de tudo

Mysty nascera à terceira entre quatro irmãos, dois rapazes mais velhos e ela e sua irmã caçula, e dos quatro irmãos era a mais calma e cordata, o que são significava sem personalidade pois convivendo com seus irmãos a rapidez de raciocínio era fundamental para a sobrevivência... Em uma família grande a disputa por atenção é sempre intensa e os ciúmes estão sempre presentes, mas mysty não era nem ciumenta e nem possessiva, por isso se tornava o alvo das brincadeiras de seu segundo irmão que adorava aprontar pegadinhas para ela, sendo sua irmã mais nova a menorzinha e a que mais alto gritava, era mysty que acabava sendo o alvo das brincadeiras mais pesadas... A primeira lembrança que mysty carrega de seu tempo de criança, relacionada ao BDSM, foi à vez em que seu irmão a convidara para brincar de mocinho e bandido e a amarrara e deixara presa por umas duas horas, ela tinha perto de seis anos na época, sua mãe só percebera a sua ausência na hora do lanche da tarde e não ficara sequer sabendo que mysty ficara tanto tempo presa pois seu irmão era esperto e antes que a mãe fosse em busca da pequena ele se prontificou a buscá-la e para soltá-la fez mysty beber um copo de água com sabão de coco, urgs, até hoje mysty se arrepia com o gosto do coco... Mysty não ficara assustada, não chorara, nem mesmo reclamara pois idolatrava esse irmão e fazia tudo para agradá-lo...para ela fora um teste que aceitara de bom grado realizar, uma brincadeira que não tivera maiores conseqüências...
A partir desse ponto algumas mudanças aconteceram na forma de mysty ver o mundo, pequenas coisas que ninguém notava como nas brincadeiras de pega-pega onde ela adorava ser perseguida ao invés de perseguir e nas festas juninas quando era presa na cadeia e se imaginava como uma prisioneira...não ser presa trazia grande frustração à pequena. Ela também desenvolvia um gosto meio estranho por ser castigada e assim causava alguns problemas só para que isso acontecesse e as visitas aos orientadores educacionais foram ficando freqüentes no currículo da menina... seus pais foram chamados muitas vezes no colégio e nenhum adulto compreendia como uma menina tão doce e inteligente pudesse causar problemas, fato que no final era atribuído à concorrência com os irmãos. Além disso as fantasias de mysty refletiam seus gostos peculiares, mas isso era segredo, enquanto a maioria de suas amigas sonhava com um príncipe encantado resgatando ela das torres do castelo, mysty sonhava em ser seqüestrada pelos vilões tais como o lobo mau...ela adorava assistir a corrida maluca e ver o Dick Vigarista raptar e prender a Penélope Charmosa.
Inserida no meio de uma família conservadora e puritana, mysty escondeu de todos seus sonhos e fantasias e criou para si mesma um mundo secreto onde poderia ser a jovem moça indefesa que era seqüestrada, amarrada e amordaçada sem jamais ser resgatada pelo mocinho, se tornando a escrava dos seus predadores...
À vista dos demais era uma jovem que crescia saudável, educada e comportada, mas que de vez em quando deixava transparecer um pouco de seu mundo em busca do castigo almejado...
Na juventude mysty se frustrava com os relacionamentos certinhos e comportados e em busca de seus sonhos trilhara muitas vezes caminhos perigosos atrás dos lobos maus, laughs, ou melhor, dos bad boys e mesmo consciente dos riscos que corria andou em lugares que uma boa moça jamais andaria....no grupo que freqüentava seu apelido era princesinha pois tinha um rosto doce e de moça bem comportada, mas quem a conhecia sabia que essa era apenas sua aparência, era destemida e sua personalidade, um tanto quanto à frente do seu tempo, despertava um certo respeito entre os amigos e ao mesmo tempo à vontade de protegê-la, graças a isso mysty passou ilesa por essa fase mesmo freqüentando o underground...dos seus amigos dessa época apenas um continua vivo, os outros ou morreram ou desapareceram sem deixar pistas...mas mesmo nessa época mysty ainda não havia ouvido falar de BDSM...assim suas fantasias eram compartilhadas apenas com quem ela elegia para fazer parte de seu mundo secreto...

14 de agosto de 2010

Prólogo

Mysty nascera no auge da luta feminista e freqüentara escolas e faculdades que enalteciam essa postura independente treinando-a para ser uma mulher bem sucedida. Em seu lar tivera a educação oposta onde a figura paterna, extremamente conservadora e controladora, aliava-se a figura materna, caracterizada pela submissão e rebeldia. Essas duas educações diametralmente opostas formaram a principio uma jovem de mente perspicaz, crítica e revolucionária que lutava por sua independência a nível intelectual, econômico e social e foi nesse exato ponto de seu desenvolvimento que as mudanças em sua vida começaram a acontecer...
As mudanças em sua vida começaram logo após o falecimento de seu pai, quando ainda contava com 20 anos de idade. Nessa época a família passou por dificuldades econômicas o que fez com que ela buscasse um trabalho e tivesse que largar sua faculdade. Mesmo sem um diploma de nível superior ela conseguira galgar os degraus profissionais desde a posição de simples recepcionista até a posição invejada de analista; conseguira reestruturar as finanças da família que controlava com mãos firmes evitando dívidas desnecessárias e mantendo tudo sob controle. Nessa época ainda levava uma vida quase normal: trabalho, namoros, alguns cursos e até conseguira viver sozinha em um pequeno apartamento por um tempo, mas a vida gostava de brincar com ela levando-a a limites que poucos tiveram que enfrentar...
Sua mãe, que nunca tivera uma saúde muito boa, após a morte de seu pai, abrira mão das responsabilidades de sua vida, quinhão que passara a fazer parte das responsabilidades de Mysty, e após alguns anos sofrera mais um revés em sua saúde. Nessa época Mysty precisara parar de trabalhar para cuidar de sua mãe e da casa e graças às finanças bem controladas isso não afetou economicamente a família, afetou no entanto a vida de Mysty drasticamente... Mysty voltou a viver com sua mãe, já sem um trabalho regular, apenas algumas atividades sem horário fixo para não interferir nos cuidados maternos, e a rotina do lar já tão conhecidas dela...Nos primeiros anos a personalidade forte da jovem se revoltou contra os grilhões forçados que a prenderam a essa situação, sempre fora dona de seu próprio nariz e agora estava sujeita as ironias do destino, vivia agora numa gaiola de ouro com correntes invisíveis que a prendiam pelos pés e mãos, uma gaiola imaginaria mas extremamente real em suas limitações.
Nos momentos mais difíceis ela desenvolvera o habito de refletir sobre sua vida, seu comportamento e desejos, transformando aos poucos a personalidade rebelde e revolucionaria da adolescente em algo para ela especial...a escrava real...ela possuía os grilhões da vida, a gaiola de ouro e aos poucos foi libertando a submissa oculta em sua alma...